segunda-feira, 26 de abril de 2010

Questão de posse.

Temos que lançar um generoso olhar sobre as políticas de cultura e preservação do patrimônio e suas implicações para projetos de desenvolvimento sustentável dos municípios, além, é claro, de sua importância para a memória e as identidades de nosso povo.

O debate sobre a relação entre o patrimônio cultural e a cidade lança a cada um o desafio de aliar, numa perspectiva de gestão pública, a necessidade de promover o crescimento econômico das cidades, reduzindo as desigualdades sociais, sempre linkado na preocupação com o equilíbrio ambiental e a preservação do patrimônio artístico, histórico e cultural; condições primeiras para o vigor do desenvolvimento sustentável. Daí, o alcance estratégico de uma política pública de gestão cultural no sentido de permitir a exploração de nosso potencial econômico, distribuindo com equidade os equipamentos públicos de cultura e lazer, adequando e otimizando os espaços urbanos, promovendo nossas identidades e memória, sem prescindir das condições urbanas e ambientais em questão.

A fim de promover estas políticas públicas deve-se levar em conta as sutilezas impressas em qualquer processo de intervenção em espaços públicos, dados o choque entre interesses e expectativas das diversas camadas sócio- culturais, a relação entre os conceitos de público e privado, a relação entre discursos e perspectivas com relação à memória, e nossa interação com estes espaços, manifestações e registros sócio- culturais identitários de nossas comunidades. Isto, pois, levando em conta que a definição de patrimônio e de preservação do mesmo deve se dar de acordo com a pactuação entre os diversos atores sociais que compõem o lócus.

De acordo com esta perspectiva, revela-se mister um intenso trabalho no sentido de equilibrar tensões, pontuar relações, identificar, administrar e contemplar discursos e representações, ampliar conceitos e formas de promoção da cultura. Estes são alguns meios para se democratizar o acesso aos equipamentos públicos de lazer, memória, trocas culturais e produção artístico- cultural, promovendo inclusão social e cidadania.

Assim, podemos inferir que um dos caminhos para promover um novo modelo de gestão cultural passa pela ressemantização das funções sociais destes equipamentos públicos, tornando a gestão uma preocupação social (público e privado), a fim de que, com a descentralização dos pontos de produção e trocas culturais, possamos empreender a ampliação destes numa perspectiva coletiva. Para isso é vital compreender e pontuar as políticas de preservação do patrimônio e dos fazeres artístico/culturais enquanto vetores de desenvolvimento econômico, e, também, social, afetivo, intelectual e físico de um lugar.

Estas novas perspectivas permitem que o individual e o coletivo se cruzem, interajam-se, identifiquem-se e pontuem novas e dinâmicas relações entre si, os espaços e os equipamentos públicos. Dessa maneira, as políticas públicas de preservação do patrimônio serão elaboradas tendo a cidade como eixo e levarão em conta que todo o fazer humano é nosso sujeito, que a reconstrução e a reafirmação cultural têm seu valor estratégico para o desenvolvimento amplo da cidade, e, também, que este movimento pode estar aliado à expectativa da cidadania e da inclusão social.

Não podemos prescindir, porém, da importância que tem cada cidadão, atuando neste processo de forma intensa e solidária, a fim de que se tornem todos, agentes de defesa e de proteção de nosso patrimônio artístico, histórico e cultural.

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