domingo, 25 de abril de 2010

Deixe que a poesia faça o seu fazer, fazendo-se.

São inúmeras as questões que me são postas quando saio por aí levando algum suporte da Plataforma Ponto e Vírgula: algumas nascem por ter desempenhado papel (coadjuvante, confesso) na gestão cultural da cidade. As respostas beiram o óbvio: não devemos esperar, ou penhorar, toda a oferta cultural ao poder (com perdão da suposta hipérbole) público. Mas, devo dizer, há sim uma motivação muito intensa que anima essa empreitada, a poesia. E me perdoem os pragmáticos, mas não há nenhum matiz político e/ou ideológico na condução do trabalho. Embora a arte, a poesia, a música, o cinema, as plásticas (refiro-me às artes), enfim, compartilhem com quem as recebe meio de ler o mundo, só que com liberdade. Bom, como as questões postas surgem em face de uma preocupação pública, não vejo mal em tecer algumas breves considerações.

A Cultura pode ser entendida como instrumento de uma práxis crítica que, sem descartar os elementos de uma cultura mais elaborada (chamada por muitos de erudita), desenvolve um processo de elevação da consciência. Essa concepção, notada em Gramsci, não é estática e percebe uma inter-relação dinâmica entre os diversos níveis da Cultura.

Uma gestão pública de Cultura deve balizar-se por conceitos ao gerenciar a programação cultural da cidade, que deve ser sempre pluralista, sem interferências de gosto, conteúdo ou estética. Este pluralismo, no entanto, não pode deixar de perceber que o produto cultural encontra níveis variados de circulação e exposição. A comunidade é a verdadeira responsável e guardiã de seus valores culturais. O patrimônio cultural pertence a quem produziu os bens e registros que o compõem. Não se pode pensar em proteção de bens culturais, senão no interesse da própria sociedade, a quem compete decidir sobre sua destinação no exercício pleno de sua autonomia e cidadania.

Uma política cultural só se mostra correta e conseqüente quando, além de contemplar medidas referentes à memória de um povo, baseia-se mais amplamente em uma concepção que integra as questões sócio-econômicas, técnicas, artísticas e ambientais, articulando-as com as questões de qualidade de vida, meio ambiente e cidadania. Além disso, há que se considerar a dinâmica da história em sua característica de "agregação do trabalho humano a um suporte material", a necessidade de desenvolvimento dos assentamentos humanos e a importância da contribuição de cada geração, dentro de um conceito de desenvolvimento sustentado e respeito às gerações e à própria história.

A integração da cultura ao cotidiano das pessoas faz com que esta exerça sua força geradora de identidades, de valorização ética e de referência cultural. Com a cultura uma nação se supera no refazer da solidariedade, no direito à apropriação de sua memória e como conhecimento da importância do seu papel transformador.

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